quinta-feira, 26 de outubro de 2023

A VOZ DO SILÊNCIO

 

Renuncias a teu corpo se queres viver.

Os sábios não demoram nos terrenos prazerosos dos sentidos. Eles não prestam atenção nas doces vozes da ilusão. Se através do corredor da sabedoria há de alcançar o vale da bem aventurança, discípulo, une-te firmemente a teus sentidos contra a grande e horrenda heresia da separação, que te afasta gradualmente do resto.

O aluno deve reconquistar o estado infantil que perdeu, antes que o primeiro sono possa cair nos seus olhos. Viver para beneficiar a humanidade é o primeiro passo. Praticar as seis gloriosas virtudes é o segundo.

Se não podes ser o sol, sejas então o humilde planeta. Humilde se queres alcançar a sabedoria. Por outro lado, sejas mais humilde ainda quando encontrá-la.

O Mestre só pode marcar o caminho. A vereda é uma só para todos, o meio de alcançar a meta é que deve variar segundo os peregrinos.

Há compaixão? Digo: Pode haver felicidade quando tudo o que vives deve ser em sofrimento?

 


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lábios Que Encantam


Inacreditável ter você ao meu lado. Primeiro que eu não mereço, depois, você é linda como uma deusa. Quem sou eu para ter esse privilégio? Te vi primeiro quando comecei a trabalhar na furna. Garimpando como aventureiro onde tentava encontrar o meu tesouro escondido. Você era uma mulher nova, mal havia chegado aos dezoito, o tempo passou e depois de cinco anos pude ver a mulher linda que se tornou. Você ri não é? Aliás, você sempre abria esse seu sorriso faceiro quando passava por mim, um sorriso que me tirava do sério, que me hipnotizava, me deixava sem pé nem cabeça, desordenado.
Eu ia levando, pensando em quantas vezes você iria aparecer de novo. Indo pra lá e pra cá, trazia o pote de água cheio para matar nossa sede e levava o mesmo vazio. Não tinha esse garimpeiro que não parasse o seu trabalho para admirar sua beleza, o cabelo comprido no meio das costas, seus olhos puxados de índia, a pele morena jambo e seus lábios... Hum! Não sei nem o que dizer dos seus lábios. Eu perdia a razão ao vê-los. Uma boca bem feita, recheada de feminilidade, torneada de sensualidade. Ah que lábios! Me envolvem, me enlouquecem fazem de mim seu serviçal. Quando te olho com o desejo explícito em minha expressão você baixa o rosto meio encabulada, isso acontece a cada hora, a cada dia que você passa por mim e tenho certeza que você já acostumou com esses instantes. Seu acanhamento é puro charme. Quantas vezes tomei da água do seu pote e nos olhamos nos olhos, desejando-nos mutuamente. Minhas mãos tocaram as suas, percorrir os seus braços e pude sentir tão sedosa que é a sua pele.
Final de tarde, corpos exaustos nada mais a fazer que ir ao acampamento, tomar um banho na beira do rio, se preparar para comer algo e deitar na rede na espera de uma noite tranqüila e uma nova jornada no dia seguinte. É morena, dormirei com um gostinho de desejo, um desejo quase consumado, sei que um dia serás minha, sinto no ar a cada vez que passa e traz água para nós. Só penso em você toda essa noite, tem realmente os lábios que encantam.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Filete de Luz

Deitado na cama vejo o feixe de luz entrar pela janela entreaberta. Já é de tarde. Apesar de ser um filete de luz consegue iluminar. As janelas dessa casa são de arquitetura antiga, a casa inteira tem um estilo séc. 18, O único contraste são as películas de filme que deixam o ambiente mais terno que o comum. A iluminação perde a força mas o ambiente fica mais aconchegante. A luz fina que entra reflete ao sole e deixa o tom das cores mais vivas. As almofadas ficam mais brilhantes, a colcha da cama reluzente, o armário de pinho mostra sua beleza. O quarto iluminado se apresenta em toda sua sinceridade. A luz da tarde já não é tão forte mas sua intensidade se faz suficiente para descobrir o que o quarto possui de tão escondido. A poeira embaixo de alguns móveis, as aranhas minúsculas pelos vértices das paredes se apresentam como sintomas de uma necessidade faxina que há dias não se faz presente. É... A luz que ilumina o quarto aparece como uma promotora que acusa todas as irregularidades. Escancara uma arquitetura decorativa que pode ser bela para quem a fez mas muito simples para quem apenas usufrui. Essa luz que entra sublime pela janela é o farol das embarcações de nossa mente que navegam pelas costas de todas as cidades. Quando se fecham as janelas dos quartos com as devidas cortinas o quarto perde a sua iluminação e consequentemente todo o seu encanto. Seria como quebrar ou jogar fora todos seus objetos, suas almofadas perdem o brilho, a colcha deixa de reluzir o armário... Beleza não terá mais. É visto que se faz tão importante esse simples feixe de luz que entra pela janela do quarto. Uma luz que dá vida a tudo que está presente, sem a mesma tudo seria nada. Como dizem os hindús: MAYA - Ilusão.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ah o casamento! Duas faces de uma mesma moeda.


Se existe um momento de mudança intertessante na vida de uma pesssoa esse é o casamento. Mudança profunda na vida. É um momento de felicidade plena onde o amor encontrado tornar-se-á um amor conciliado.
Duas pessoas que se amam e são capazes de fazer tudo, um pelo outro, o casamento é o selo desse envolvimento. Ao casar explicitamos para amigos e familiares que estamos prontos, amadurecidos(nem sempre) para a construção de um lar. A nossa alegria será compartilhada com todos eles. A alegria de poder viver com a pessoa que tanto queremos e amamos e se for de acordo com o proceso natural de Darwin, gerar filhos e netos.
Ao olhar o casamento por outro ângulo, pode ser algo nada agradável. O mesmo limita a liberdade, em alguns momentos priva o a pessoa de sair com amigos, sim aquele mesmo que vc conheceu na escola ou faculdade e não vê há anos. É possivel de gerar ciúmes de forma mais acentuada pois o marido(ou esposa) tem um sentimento de POSSE sobre seu parceiro e acha que o mesmo não pode se divertir com amigos. O ciúme gera conflitos, discussões, agressões... Fatores de fato tristes.
Cada pessoa deve pensar bastante antes de casar, perceber se o "terreno" amoroso de uma relação é de um "asfalto" seguro, sólido, ou se não passa de uma velha estrada de terra e lama, onde você pode atolar seu grande sonho.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O copo d'água


Sentado à mesa. Com um copo d'água à frente. Um copo cheio d`água.
Não havia ninguém além de mim mas haviam muitos à minha volta.
Vinha de um cansativo dia e parei para tomar um "cafezinho". A água veio junto.
Em alguns minutos o café havia ido e só restava um copo d'água, não tanto cheio. Nesse momento de reflexão, turbulências rondavam a mente. Tinha de pensar, fazer o quê? Resolver os dilemas da vida, mas qual a graça de uma vida sem os seus dilemas? Nenhuma, monotonia pura.
A gente pensa que é fácil direcionar a vida em determinadas situações. Na maioria das vezes nem imaginamos o quanto é complicado.
É necessário sangue frio e experiência para refletir e tomar certas atitudes.
Lá estava eu pensando muito... Olhando esse copo d'água tomado pela metade.
Vez ou outra tomava o copo na mão e o apreciava entre um gole e outro. Ia pensando naquele momento. Em poucos instantes a minha vida passou na mente como uma película de filme antigo. Eu pensava em que tinha feito e em que havia deixado de fazer e suas consequências no presente. Em alguns instantes tudo se apagou, era o mesmo que nada ser pensado, apenas apreciava o copo d'água tomado já a mais da metade.
Em torno de mim pessoas circulavam, não percebia suas roupas, seus estilos, seus cortes de cabelo, apenas sabia que estavam ali, estavam ali à minha volta, passando, direcioando suas vidas. Enquanto isso eu tomava a água que estava no copo d'água já quase em seu fim.
Em um momento o telefone tocou. O toque do telefone, por mais que pudesse, não tirou todo o meu envolvimento com o copo d'água já no finalzinho. Tiro do bolso e observo. Era uma pessoa que gosto muito e tocou, tocou, tocou... Até cair na caixa. Não queria falar, ou ver ninguém. O meu envolvimento era único com o Copo d´água. Peguei a carteira na mão, tirei o dinheiro da conta, lancei em baixo do copo d'água, que já não tinha água alguma, e fui me embora.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Momentos de uma prazerosa infância


Era 1980, sendo preciso 20 de setembor de 1980. Um garoto fazia nove anos. Um menino franzino que tirava onda de atleta. A festa começou no final de tarde, o sol adormecia no horizonte e os amigos chegavam.
Eram mais coleguinhas de escola e vizinhos mais próximos. Ele ficava feliz quando via que seus amigos chegavam com presentes na mão. Ah presentes! Como sentia bem ao receber um amigo que trazia um presentinho novo com "cheiro de loja".
O mais importante era receber brinquedos, os olhos brilhavam e o sorriso inflava em seu rosto, era muito bonito.
Ao receber uma camisa, um short, uma calça... Olhava de soslaio e, com sinceridade, inevitavelmente demonstrava como se não gostasse. Geralmente quem dava esse tipo de presente eram familiares, os amiguinhos sabiam e falavam com os pais que tinham de dar o mesmo que gostariam de ganhar. É assim que funciona na vida de crianças, a sintonia é grande porque depois do aniversário eles iam brincar juntos. O presente fazia parte do coletivo do anjo gregário da turminha.
O garoto recebia seus amigos, convidados, abria seus presentes, levava-os ao quarto e jogava-os na cama. Até que chegou um grande amigo do seu pai, o "Nanan".
Assim que Nanan chegou a festa tomou outro rumo. Ele havia trazido um presente muito especial para aquele fim de tarde.
Quando o garoto abriu a caixa, ficou surpreso e sem ação: Acabava de ganhar uma máquina fotográfica. A princípio não tinha entendido direito, mas depois que o Nanan explicou que aquele aparelho iria registrar todos os seus momentos ele deixou todos os presentes de lado e começou a usar ali mesmo, no aniversário. Tirava fotos de seus amigos, dos convidados, dos presentes que ganhou, de seus pais, irmão... Fez a festa ficar mais alegre desejando registrar tudo que acontecia. A partir desse dia o garoto começou e não parou mais sua paixão pela fotografia.
Nessa festa de repente quem chega? Uma amiguinha de escola, seu nome é Gabriela e ela deveria ter 9 ou 8 anos, estudavam na mesma escola e o coração do garoto disparou, o dela também, seu riso ingênuo e sincero se fazia presente sempre que seus olhares se cruzavam.
De repente A mãe do garoto chamou a atenção de todos era a hora dos parabéns. Todos de pé se amontoavam na sala de jantar em volta da mesa. Ele fazia questão que seus amigos mais íntimos ficassem mais próximos. Gabriela era uma delas e de repente, cantaram "parabéns pra você", não tinha ainda o tal de "É pique...", e ao soprar a vela a garota e o menino se abraçaram numa desculpa de desejar um feliz aniversário.
Depois desse instante a festa se divida: Adultos pela sala de estar e jantar e crianças pelo pátio da casa, e pelo quintal brincando e se entregando numa verdadeira amizade.

sábado, 6 de novembro de 2010

BENÇA

Na sexta-feira 05/11 fomos ao teatro Vila Velha assistir a estréia de "Bença", Espetáculo do Bando de Teatro Olodum, sob a direção de Márcio Meireles. O Vila é um teatro moderno talvez até futurista. Cheio de inovações tecnologicas de DJ´s e Telões...
Mais uma vez encontrar com a turma do Vila é muito legal, me traz boas recordações.
Convidados por Valdinéia atriz do Bando, eu e Anita tivemos o privilégio de assistir esse novo projeto.
Meu xará, o Meireles, como sempre inovando a cada espetáculo. Nos traz com a "Bença" a ancestralidade que sempre me remete ao místico e ao mítico, ao transe poético. Uma onda mais limpa, mais pura. Ele plugou a ancestralidade na tomada... Aí ficou elétrica e deu choque na emoção da gente. (Vida Bandida). Tem uma estética refinada, sim, muito, um figurino de arrepiar de raizes negras de turbantes. Uma peça linda. Trata do tema como o nome já diz, da benção que era pedida aos mais velhos há algum tempo e que hoje não é dada muita anteção pelos os mais novos, pricipalmente porque pedir a benção era uma forma de respeito, algo hierárquico onde os mais novos desde criança eram educados assim.
Lembro que eu pedia a "bença" aos meus avôs e tio-avôs, mas aos meus pais... Só em tom de brincadeira, lembro eu. Tive até um sentimento saudosista durante o espetáculo lembrando que essas raízes hoje em dia foram deixadas de lado. Uma pena.

Enfim, falando do espetáculo, é uma junção de moderno e antigo, tecnologia e ancestralidade africana, real em vida e visual em técninca. Loucura pura! Fique certo que você vai querer ver mais de uma vez, ao menos para concretizar sua compreenção. Se Meireles desejou confundir seu público conseguiu. O melhor de tudo é que foi uma confusão muito ineressante, eu usei uma técnica pra compreender mais um pouco, não posso escrever... Pode tirar um pouco o suspense do espetáculo, mas funcionou.