sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lábios Que Encantam


Inacreditável ter você ao meu lado. Primeiro que eu não mereço, depois, você é linda como uma deusa. Quem sou eu para ter esse privilégio? Te vi primeiro quando comecei a trabalhar na furna. Garimpando como aventureiro onde tentava encontrar o meu tesouro escondido. Você era uma mulher nova, mal havia chegado aos dezoito, o tempo passou e depois de cinco anos pude ver a mulher linda que se tornou. Você ri não é? Aliás, você sempre abria esse seu sorriso faceiro quando passava por mim, um sorriso que me tirava do sério, que me hipnotizava, me deixava sem pé nem cabeça, desordenado.
Eu ia levando, pensando em quantas vezes você iria aparecer de novo. Indo pra lá e pra cá, trazia o pote de água cheio para matar nossa sede e levava o mesmo vazio. Não tinha esse garimpeiro que não parasse o seu trabalho para admirar sua beleza, o cabelo comprido no meio das costas, seus olhos puxados de índia, a pele morena jambo e seus lábios... Hum! Não sei nem o que dizer dos seus lábios. Eu perdia a razão ao vê-los. Uma boca bem feita, recheada de feminilidade, torneada de sensualidade. Ah que lábios! Me envolvem, me enlouquecem fazem de mim seu serviçal. Quando te olho com o desejo explícito em minha expressão você baixa o rosto meio encabulada, isso acontece a cada hora, a cada dia que você passa por mim e tenho certeza que você já acostumou com esses instantes. Seu acanhamento é puro charme. Quantas vezes tomei da água do seu pote e nos olhamos nos olhos, desejando-nos mutuamente. Minhas mãos tocaram as suas, percorrir os seus braços e pude sentir tão sedosa que é a sua pele.
Final de tarde, corpos exaustos nada mais a fazer que ir ao acampamento, tomar um banho na beira do rio, se preparar para comer algo e deitar na rede na espera de uma noite tranqüila e uma nova jornada no dia seguinte. É morena, dormirei com um gostinho de desejo, um desejo quase consumado, sei que um dia serás minha, sinto no ar a cada vez que passa e traz água para nós. Só penso em você toda essa noite, tem realmente os lábios que encantam.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Filete de Luz

Deitado na cama vejo o feixe de luz entrar pela janela entreaberta. Já é de tarde. Apesar de ser um filete de luz consegue iluminar. As janelas dessa casa são de arquitetura antiga, a casa inteira tem um estilo séc. 18, O único contraste são as películas de filme que deixam o ambiente mais terno que o comum. A iluminação perde a força mas o ambiente fica mais aconchegante. A luz fina que entra reflete ao sole e deixa o tom das cores mais vivas. As almofadas ficam mais brilhantes, a colcha da cama reluzente, o armário de pinho mostra sua beleza. O quarto iluminado se apresenta em toda sua sinceridade. A luz da tarde já não é tão forte mas sua intensidade se faz suficiente para descobrir o que o quarto possui de tão escondido. A poeira embaixo de alguns móveis, as aranhas minúsculas pelos vértices das paredes se apresentam como sintomas de uma necessidade faxina que há dias não se faz presente. É... A luz que ilumina o quarto aparece como uma promotora que acusa todas as irregularidades. Escancara uma arquitetura decorativa que pode ser bela para quem a fez mas muito simples para quem apenas usufrui. Essa luz que entra sublime pela janela é o farol das embarcações de nossa mente que navegam pelas costas de todas as cidades. Quando se fecham as janelas dos quartos com as devidas cortinas o quarto perde a sua iluminação e consequentemente todo o seu encanto. Seria como quebrar ou jogar fora todos seus objetos, suas almofadas perdem o brilho, a colcha deixa de reluzir o armário... Beleza não terá mais. É visto que se faz tão importante esse simples feixe de luz que entra pela janela do quarto. Uma luz que dá vida a tudo que está presente, sem a mesma tudo seria nada. Como dizem os hindús: MAYA - Ilusão.